Qua, 08 de Abril de 2009 18:24
Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil tem política de cotas desde o início da República. Ainda no Século 19, o novo regime previu a destinação de terras para imigrantes europeus. No atual período democrático, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu cotas para portadores de necessidades especiais nos concursos públicos e reservou 30% das vagas nos partidos políticos e coligações eleitorais para candidaturas femininas.
Apesar de já conviver com sistemas de cotas há tanto tempo, as políticas de reservas de vagas para negros adotadas em algumas universidades brasileiras geram significativa polêmica no ambiente acadêmico e em toda a sociedade. Para a pesquisadora Mafoane Odara, consultora em relações raciais e diversidade da Universidade de São Paulo (USP), a celeuma é sinal de que no Brasil há preconceito, descriminação racial e luta política.
"Estamos falando de disputa de poder e racismo, do preconceito e da discriminação de um pedaço da sociedade que não aceita que um grupo, não-hegemônico-padrão, saia do lugar que ocupa. Alguém vai ter que levantar para alguém sentar", afirma a pesquisadora, ao explicar a disputa em torno de vagas nas universidades brasileiras.
O coordenador executivo da Comissão de Vestibulares da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Leandro Tessler, ressalta que existem razões práticas e ideológicas para a polêmica sobre as cotas raciais para ingresso na universidade.
"Ninguém se preocupa quando tem política afirmativa para os cursos do ProUni [Programa Universidade para Todos, que fornece bolsas de estudos para o curso superior em faculdades particulares]. Nunca ouvi nenhum intelectual reclamando disso, mas, quando se fala das vagas do curso de medicina da USP ou da Unicamp, é uma grita." Tessler lembra "o mito da miscigenação, da igualdade entre todas as pessoas", no qual diz acreditar.
No entanto, ele é contra a política de cotas e defende o sistema de bonificações para alunos negros e alunos egressos de escolas públicas, adotado na Unicamp. Para Mafoane Odara, a política de cotas "é um remédio que o Brasil precisa tomar, para ter uma sociedade mais justa, igualitária, democrática e colorida". Isso, sem esquecer de ações que também melhorem a qualidade do ensino público, ressalta.
A pesquisadora da USP e o coordenador do vestibular da Unicamp são dois dos três convidados do programa 3 a 1 que a TV Brasil exibe hoje (8), às 22 horas, no Canal 2 (sinal aberto). Além dos dois debatedores o programa, mediado pelo jornalista Luiz Carlos Azedo, tem a participação do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB).
Após a gravação do programa, o senador lembrou que, quando foi reitor, na década de 80, recebeu a visita de uma pesquisadora norte-americana com quem percorreu o campus da UnB. Ao fim da passeio, Cristovam perguntou à visitante se havia notado muitas diferenças entre uma universidade do Brasil e as americanas. A pesquisadora foi direta: "Não há negros na universidade brasileira".
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Notícia enviada por Jesiel pela lista do conexoes_ufba@yahoogrupos.com.br
danilo, fneop
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