Este projeto foi um convite do grupo CHAMA em parceria com o Projeto Olhar Cidadão, idealizado pelo fotógrafo Lúcio Telles, com a Faculdade Sergipana - Faser desenvolverem atividades na comunidade do Pantanal. Essa comunidade é palco de grande desigualdade social, visto que é próxima a duas áreas nobres de Aracaju enquanto as próprias condições básicas de habitação não existem. Por outro lado, como toda comunidade popular, tem sua riqueza e beleza particular que são muito maiores que os problemas sociais.
O Projeto é realizado num galpão alugado. O CHAMA é desenvolvido pela comunidade local através dos músicos da banda de reggae Oganjah e pela Tia Dora.
Sábado, 25.04.09
As atividades estavam previstas para começar às 9h. A proposta é produzir com as crianças máquinas fotográficas caseiras (Pinhole) e tirar fotos da comunidade. Por conta do trabalho só pudi chegar 10:15h. Neste momento perguntava-se às crianças o que elas iriam fotografar de alegre ou de triste na comunidade. Bem tímidas, elas foram falando aos poucos. Falou-se da família, do rio Poxim que está poluído e da própria oficina que eles estão participando.
Também perguntou-se o que as crianças viam na tevê quando falava do Pantanal. Constatou-se que mostra muita violência, mas será que é só isso que tem na comunidade? Se elas fossem fazer um jornal o que haveria nele? A proposta então é que se faça um jornal da comunidade, pois quem sabe falar da comunidade é ela mesma, são as pessoas que nela moram.
Depois as crianças olharam na caixa escura como a camara capta a imagem a ser fotografada e que ela aparece invertida.
No período da tarde fizemos as máquinas fotográficas caseiras, ou Pinhole. O processo de fabricação é mais ou menos o seguinte: pega-se uma caixa de fósforo e pinta a parte de dentro com tinta preta, inclusive a parte de encaixe. Esta parte de encaixe deve ter o seu fundo recortado. Corta-se um pedaço de lata de alumínio (refrigerante) do tamanho da caixa de fósforo e nela faz um pequeno furo com uma agulha – não deve passar a agulha toda (Pinhole = buraco de agulha). Em seguida, faz um pequeno buraco na parte de cima da caixa de fósforo. O pedaço da lata de alumínio deve ser encaixado na parte de cima da caixa de fósforo de modo que os dois buracos permitam a passagem de luz – prende-se com fita isolante. Feito isso, colocamos os dois rolos de filmes, o novo e o usado. Para tanto, coloca-se a caixa de fósforo com o lado do furo para a frente, o filme novo fica na direita e deve ser desenrolado de modo que passe por dentro da caixa de fósforo, ainda sem a parte do encaixe. Depois, com a fita isolante, unifica os dois filmes e enrola o usado até o novo entrar nele. Acabada essa parte, insere o encaixe da caixa de fósforo e isola-se toda a caixa com fita isolante. Por fim, faz-se com a fita isolante um pequeno lacre que fechará e abrirá o furo da caixa de fósforo expondo ou não à luz.
Destacou-se também a importância dessa troca de saberes entre a academia e a comunidade. A idéia é fazer deste projeto de dois dias em uma ação permanente. É muito bom e enriquecedor para quem vem a desenvolve a atividade – mas é cruel para quem fica na comunidade se ela não tiver continuidade. É como ter um banquete em um dia e no outro passar fome. Os outros convidados que façam qualquer outra atividade que queiram ministrar é só falar, pois pretende-se fazer atividades uma vez a cada dois meses, ou por mês. Dependendo da quantidade de oficinas, alterna-se os ministrantes, mas a comunidade tem uma agenda permanente.
Encerramos as atividades pouco depois das 17h.
Domingo, 26.04.09
Começamos as atividades por volta das 10h. Foi mostrado como é o funcionamento da máquina fotográfica caseira: cada uma delas tem um número escrito, dois ou quatro, que representa o tempo que a máquina deve estar exposta à luz para que a fotografia seja feita. Após a foto ser tirada deve-se girar o filme. Também foi enfatizado que a foto deve ser feita em superfícies planas, para evitar que sai tremida a foto. As pessoas que fossem ser fotografadas também deveriam se manter paradas.
Por fim, antes de sairmos à comunidade para fotografar, lembrou-se que há poucas fotos (cerca de 10) a serem tiradas, então que se escolhe-se bem o que ia fotografar. E que hoje é o dia mundial do Pinhole, que esta atividade está se realizando em diversos lugares do mundo como Ucrânia, Alemanha, Japão e também aqui no Pantanal. Esta arte é valorizada por ser feita com material reciclado e ser mais acessível à todas/os.
As crianças foram acompanhadas por um/a responsável que auxiliou. Foram tiradas fotos de cavalos, do rio, de flores, de familiares, etc. Depois voltamos ao galpão da CHAMA ou da Tia Dora, como é conhecido. As crianças devolveram as máquinas. Dia 16/05 ocorrerá o Varal Fotográfico: uma exposição das fotos que foram tiradas.
Enquanto fazíamos as fotos na comunidade, quem não participou ontem ou não tinha uma máquina fotográfica caseira ficou fazendo o fanzine, o jornal do Pantanal. Quase todos os textos foram escritos pelas crianças. A idéia é tirar cópia e distribuir na comunidade. Os textos fazem referências às ruas, pessoas e locais do Pantanal para que a comunidade se sinta representada, se reconheça no fanzine.
Avaliando o Primeiro Final de Semana de Mídia Livre do Pantanal podemos dizer que foi um sucesso. Crianças da comunidade que nos outros projetos não se interessaram, neste apareceram. Houve uma boa interação entre as crianças e adultos que não eram da comunidade. As crianças se empenharam e compreenderam bem a atividade que estavam desenvolvendo, tanto a questão técnica de produzir uma máquina fotográfica caseira com material reciclado, quanto a questão pedagógica de que a comunidade pode falar dela mesma e não apenas agentes externos, como acontece na grande mídia.
Relatoria por Danilo Kamarov
Fórum de Estudantes de Origem Popular
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