sábado, 4 de abril de 2009

Sobre as dificuldades da articulação dos feop’s

O arquivo pode ser baixado aqui
http://www.flyupload.com/?fid=512073335

Robson Alves – FEOP/CE

Esse texto foi escrito em setembro de 2008 para a lista do Conexões Ceará, quando tentávamos uma rearticulação do FEOP/CE. Foi uma resposta ao companheiro de FEOP, Dieric Abreu, que, como eu, estava angustiado com as dificuldades para rearticular o FEOP/CE. Resolvi adaptar o texto para compartilhar com os companheiros de todo Brasil. Penso que as dificuldades encontradas na articulação dos FEOP’s são similares e que devemos, o mais rápido possível, prosseguir no debate sobre a organização dos FEOP’s. É uma visão particular, sujeita a críticas, obviamente, e que deve ser problematizada.
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Interessados no FEOP-CE (e especialmente Dieric),
Hoje estou com fôlego, espero que estejam também. Demorei um pouco pra escrever e gostaria que lessem.

Primeiramente gostaria de pedir desculpas pelas ausências nas últimas reuniões. Os motivos são os mesmos: dificuldades financeiras e o horário das reuniões que chocam com outros fazeres que tenho.

Reafirmo o meu compromisso com o FEOP por acreditar na importância deste para a luta, não só dentro do ambiente acadêmico, mas em todos os outros espaços que envolvam a causa estudantil comprometida com uma real transformação na sociedade.

Continuo ainda sem poder ter dito isso com clareza nas reuniões, acreditando que o FEOP deve localmente e nacionalmente incorporar ações mais contundentes nas suas pautas. Ir além do discurso de acesso e permanência na universidade que é mínimo se comparado aos anseios gerais dos estudantes. Não minimizo aqui as ações já realizadas nesse sentido pelo FEOP local e nacional, pelo contrário acredito que foi essencial a caminhada até aqui, pois além de dar o ponta-pé inicial mostraram que o caminho não é fácil, mas que precisa ser trilhado.

Em conversa com o Dieric, ele me passou alguns informes do que tinha sido as reuniões anteriores. Fiquei contente com o que escutei, mas por ora, gostaria de dizer sobre o que penso acerca das dificuldades que estamos enfrentando na rearticulação do FEOP-CE. Penso que as dificuldades que encontramos hoje revelam muito de uma realidade mais ampla. E pior, as dificuldades encontradas são as mesmas para qualquer organização desse tipo – que se destina à luta política. Não é uma especificidade do FEOP.

Historicamente, penso que o último século do capitalismo foi responsável pela naturalização em nossas mentes de coisas que nunca deveríamos ter perdido. E uma delas, a que nos interessa aqui: a politização das pessoas, deixando cada vez mais o poder nas mãos daqueles que estão em cima, queiramos chamar de ricos, burgueses, ou termo similar.

Fizera acreditar que a solução dos problemas seria resolvida por um Estado, pelas eleições, por um parlamento, “única forma de mudar o quadro atual” (como nos diz a nossa grande mídia – já viram as últimas propagandas do governo sobre o assunto?). Fizera acreditar que deveria existir pessoas específicas para cuidar dos nossos assuntos (políticos profissionais), ou seja, terceirizar o nosso trabalho político. Fizera acreditar que devemos esperar por estes, mesmo que demore, para resolver até o mínimo dos problemas, “afinal eles são os únicos que podem resolver não é mesmo?”.

Não fica evidente para a maioria das pessoas, mas há uma coisa que muito me constrange. Como acreditar que essas coisas são possíveis se aqueles (políticos) que estamos esperando não têm os mesmos objetivos que nós? Em outras palavras, como esperar políticas que visem a melhoria das classes populares por pessoas que não são das classes populares? Para mim, me parece óbvio que aqueles que possuem direitos não querem perder e, nesse sentido, não podemos esperar por aqueles que já o possuem. “Igualar as coisas” não deve ser mais que discurso se vindo de pessoas que tudo tem. Não é altruísmo demais? Acreditar no discurso de igualdade daqueles que estão “por cima” é pura ingenuidade.

Para quem acredita no Estado como regulador da sociedade gostaria de dizer que, até onde sei, nunca houve nada decidido por eleições. Pelo menos no que diz respeito a grandes mudanças. Tudo que é feito pelo Estado é feito dentro de um limite aceitável e tolerável. Aceitável por quem? Por aqueles que o regem, e não por nós, como aprendemos na escola desde criancinha. Quem diz que o Estado somos nós, o povo, o somatório de todos os indivíduos, a meu ver, está no mínimo equivocado uns 300 anos atrás – pelo menos o que lembro, essa teoria é do século XVII. O dia-a-dia nos mostra que o “nosso” aparelho administrativo tem dono e que, se quisermos algo dele, não será pedindo com boa vontade, com jeitinho, com eleições...

Também gostaria de dizer, que parte de nossa despolitização foi causada pela chamada “esquerda”. Durante um bom tempo aprendemos sobre a Guerra Fria – ainda hoje está assim no livro didático – e lembra quem eram os atores da Guerra? Nos diziam: União Soviética e EUA. O primeiro representando o “socialismo” e o segundo o capitalismo. Final da História: vitória do capitalismo. A prova de quem é o melhor estava dada.

Ora, pra começar diria que o que existia na União Soviética, a meu ver está longe de ser socialismo e deveria ter desmoronado há muito tempo. Durou demasiadamente. Matou demais. Torturou como nunca. E, por fim, manchou o nome Socialismo. Como confundir os horrores da União Soviética com socialismo? Não sou marxista, tenho críticas do começo ao fim do marxismo, mas acho que Marx, aquele que melhor sistematizou o capitalismo e vislumbrou uma outra sociedade, está se mexendo no túmulo cada vez que são ditas tais coisas, e olha que não são poucas as vezes.

Mas para voltar ao assunto, o que queria dizer era que foi gerado um certo ranço e medo em relação ao nome socialismo, à politização, à organizações que contestam a realidade, ao apreço pelo coletivo já que o fundamento de nossa sociedade é o individualismo (poderia ficar listando outras coisas) ...

Enfim, os problemas são grandes!

Grandes demais!

Qual é a saída? O que fazer para as pessoas pensarem mais sobre essa realidade? Para as pessoas tomarem partido ao invés de serem tomadas pelos Partidos? Isso diz muito sobre nossa tarefa. As pessoas só se movimentam quando sentem necessidade, quando se sentem lesadas por alguém. Como fazer para que as pessoas vejam que estão sendo lesadas, no sentido de prejudicadas, todos os dias, sob todas as formas e que é necessário mudar a rota do nosso caminho?

É esse o problema que o FEOP enfrenta no momento, dificuldade até para unir aqueles que teoricamente deveriam ser os mais interessados por esta causa, afinal chegaram até a faculdade com baita esforço. Ou aceitam que chegou a universidade porque é um vencedor/a, porque é o/a melhor, porque fez por merecer – e aí eu digo que você é um/a grande liberal e que poderia ser pré-candidato/a pelo PT ou DEMO; ou aceitam que chegou com grande esforço e que não deveria ser assim, porque deveria ser normal entrar na universidade e, logo, por questão de ética, deve tomar parte, inclusive política, para modificar o que você acha errado. Assumindo que esse grande esforço foi causado por um sistema meritocrático característicos dos dias contemporâneos.

Imagine agora amigas e amigos, o que fazer para chamar ao nosso encontro aquelas/es que não estão diretamente ligadas/os a este tipo de discussão. Aquelas/es que nem se identificam com o nome Origem Popular, ou mesmo que nunca ouviram falar nesse termo. FEOP, pra quê? Isso é problema pra político rapaz! Ora, é isso que vamos escutar.

Quando acusadas/os de sonhadoras/es, espero que não desanimem. Sabemos que o que vemos é real. A nossa crítica não é abstrata. Podemos chamar qualquer um/a para mostrar em qualquer esquina dessa cidade que as contradições sociais existem, que são evidentes. Agora, se você acha essas contradições justas ou não, se acha que é natural, que sempre existiu e sempre existirá, se vai fazer algo pra reverter esse quadro ou não, isso é um problema seu, mas que tem conseqüências coletivas.

Àqueles acomodados/as, gostaria de dizer que quando a questão é social, quando detectamos as diferenças existentes nessa sociedade, quando sabemos existir ricos e pobres, não podemos ficar em cima do muro. Afinal, como diria alguns companheiros libertários desta terra, “quem fica em cima do muro, está do lado do dono do muro” (precisa dizer quem é o dono?).

Um obrigado do tamanho do mundo pra quem leu até o fim!

Um Abraço bem grande!

Robson Alves – UFC
Revisão por Danilo – Fneop

Acessem o blog feop.blogspot.com

3 comentários:

MCVC Services disse...

Penso que a maior dificuldade em manter ativo os movimentos é a vida corrida que as pessoas levam. Elas até desejam participar das reuniões, mas são tantas dificuldades, (disciplinas, condições econômicas, dentre outras) que é quase impossível manterem uma participação ativa.
Exemplo: eu, Cláudia-UFC, estou indo à universidade, apenas quatro dias na semana, e as reuniões do FEOP/CE acontecem justamente no dia em que não vou.
É sentindo muito que, não estou participando das reuniões ativamente, pois foi nelas encontrei uma maneira de ajudar o os outros.
Resumindo: reuniões com data, hora e lugar fixos fazem com que a demanda diminua. No entanto, não importa o tanto de participantes, mas sim, a vontade que estes têm de lutar.

danilo disse...

Cláu, sobre o horário das reuniões veja se não tem como fazer alternado, em uma semana dia x e na outra semana dia y. Evidentemente sempre na intensão de agregar mais pessoas e não dividir.

Sobre estarmos muito ocupadas/os vejo isso como amarraas que nos envolvem, algumas reais (trabalho) e outras simbólicas (festas, tv) . Assim nunca temos tempo para lutar "por nossos direitos".

Por isso reconheço os movimentos sociais como resistência.

Então vamos lá resistir!!
=D
danilo, fneop

Caio Marcelo disse...

Olá querid@s,

O texto tem um tom de desabafo e ao mesmo tempo preocupação com a mobilização política de alguns companheir@s. Se serve de consolo, Robson, aqui no Rio não é diferente. Não chegam a doze o número de compnheir@s que tocam de verdade o FEOP, e olha que temos quatro IFES aqui, então, juntem-se você, Cláudia e Dieric e organizem o encontro local do FEOP. Articulem com os prés-comunitários, otimizem a rede de prés do PRECE, usem o espaço do PRECE - Benfica pra isso, tenho certeza que conseguirão apoio da Coordenação. Uma outra coisa que chamou minha atenção no seu texto. Você começa dizendo que temas como Acesso e Permanência são mínimos... Permita-me discordar de você e farei isso usando a sua realidade como exemplo. Na UFC mais de 70% dos discentes são de escolas particulares, o investimento em assistência estudantil é mínimo e marcado pela precariedade, é só fazer uma visita as residências universitárias, muitas delas sem manutenção e em péssimo estado de conservação. Sem falar da oferta que não corresponde a demanda. Se não fosse a ação de ONGs como o PRECE a permanência de muitos estudantes do interior estaria comprometida. O Ceará tem 64% da sua população constituída de negros (pretos e pardos), no entanto, essa grande massa está subrepresentada nas Universidades Públicas do estado. Esse assunto é mínimo? O que devamos discutir? A Autonomia Universitária? Autonomia essa que só prestado um desserviço a democratização da universidade. Não sei o que é ser politizado, mas sei exatamente o que é ser Sem Universidade, Sem Assistência Estudantil, Sem Educação de Qualidade, Sem Acesso e Sem Permanência. O processo imobilizador nos afeta de várias formas, uma delas é colocando no outro as culpas pelo nosso insucesso, incapacidade. Nunca é demais lembrar que milhares de amigos, conhecidos, parentes etc., não conseguiram ainda uma vaga na universidade e tem em nós a esperança de que com a nossa entrada aconteça uma revolução de dentro pra fora, não vamos decepcioná-los, vamos?

Abraços fraterno.

Francisco Marcelo