Acho que falta na matéria abaixo uma discussão sobre a qualidade de ensino nas graduações nas universidades privadas, a imensa maioria das quais não pode ser comparada às PUC's. No entanto, em tempos de bombardeio cerrado e irracional às políticas afirmativas (basta conferir, no artigo, a postura do Simon Schwartzman), não deixa de ser uma notícia que merece divulgação e reflexão.
abçs, Jesiel
JC e-mail 3783, de 15 de Junho de 2009
Comparação foi feita entre beneficiados pelo ProUni e demais alunos do último ano de dez cursos universitários privados. Para diretores de faculdades, bom resultado dos alunos bolsistas não surpreende; para conseguir a bolsa, é preciso ir bem no Enem
Bolsista tem nota igual ou maior que pagante
Antônio Gois e Denise Menchen escrevem para a “Folha de SP”:
Bolsistas do ProUni tiveram desempenho igual ou superior ao de seus colegas no Enade (exame do Ministério da Educação que substituiu o Provão), em dez áreas onde foi possível fazer a comparação entre alunos que cursavam o último ano.
A pedido da Folha, o Inep (instituto de pesquisas ligado ao MEC) comparou a média desses universitários com a dos demais colegas de curso.
O Enade de 2007 foi o primeiro a identificar, entre os formandos, aqueles que são bolsistas do ProUni - programa do MEC que dá bolsas integrais ou parciais em instituições privadas para alunos com renda familiar per capita inferior a três salários mínimos.
Nas dez áreas comparadas, em duas (biomedicina e radiologia) a diferença a favor dos bolsistas foi significativa.
Nas oito restantes (veterinária, odontologia, medicina, agronomia, farmácia, enfermagem, fisioterapia e serviço social), a distância (a favor dos bolsistas em quatro casos e contra eles em quatro) foi sempre igual ou inferior a dois pontos numa escala de zero a cem - diferença que não é significativa estatisticamente.
Já na comparação entre ingressantes, o desempenho foi sempre favorável aos bolsistas.
O sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, sugere duas hipóteses. A primeira é que isto indicaria que os bolsistas têm nível socioeconômico superior ao de seus colegas, o que mostraria que a focalização do programa não está sendo eficiente.
A segunda é que, como há uma nota mínima no Enem para pleitear a bolsa, ficam de fora os alunos de nível menor, que ingressariam, sem ProUni, em cursos menos disputados.
Para diretores de universidades privadas, o bom desempenho não surpreende. Célia Forghieri, assessora da Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP, diz que, por ser uma das universidades mais procuradas pelos inscritos no ProUni, a PUC recebe os melhores alunos das escolas públicas.
"Muitos professores ficaram receosos de que os alunos [do ProUni] iriam diminuir o brilho acadêmico da universidade, o que se mostrou equivocado."
Na PUC-Rio, o diagnóstico é o mesmo. "No geral, são [alunos] aplicados que reconhecem o valor da oportunidade que estão tendo. A evasão também é menor", diz Elisabeth Jazbik, assessora da vice-reitoria.
As universidades Estácio de Sá, do Rio, e Anhembi Morumbi, de São Paulo, fazem o mesmo balanço. "Não temos registro de nenhuma alteração significativa na curva normal de desempenho dos alunos", afirma Jessé Holanda, diretor executivo de operações da Estácio.
"Eles têm notas muito boas no Enem e chegam bem preparados", diz Karl Albert, diretor da Anhembi Morumbi.
Mesmo assim, ainda não há consenso sobre o peso do ProUni na inclusão de alunos pobres nas universidades. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE mostra que, em 2004, ano de criação do programa, 679 mil alunos de particulares tinham renda domiciliar per capita inferior a 1,5 salário mínimo (corte do ProUni para concessão de bolsas integrais). Eles eram 20% do total.
Em 2007, considerando a variação da inflação e do mínimo no período, esse número aumentou para 895 mil, mas, como houve crescimento de matrículas nas particulares, o percentual se manteve em 20%.
Custo de material e busca por estágio estão entre as dificuldades
Filho de um auxiliar de serviços gerais e de uma empregada doméstica, Osmar Galvão, 23, conta que ingressou no curso de publicidade da PUC do Rio com medo da recepção que teria dos colegas, já que a universidade atrai alunos das escolas privadas mais caras da cidade.
"A gente chega às vezes com uma visão de que vai encontrar apenas mauricinhos chatos e acaba se afastando. Mas fui muito bem acolhido."
Ele se forma neste ano e afirma que, sem bolsa integral, seria impossível pagar a mensalidade de R$ 1.800, já que as rendas do pai e da mãe, somadas, não chegam à metade disso.
Quando foi procurar estágio, Galvão teve mais dificuldades que os colegas. "A base cultural, como ter feito intercâmbio e falar bem inglês, faz diferença. Mas consegui um estágio onde recebo um salário mínimo."
No caso de Renan Muralho Pereira, 20, a bolsa do ProUni possibilitou que ele cursasse medicina na Anhembi Morumbi, de São Paulo. É o primeiro da família a ingressar numa universidade.
Mesmo sem pagar mensalidade, Pereira ainda tem de arcar com outros custos, como os relativos ao material. Ele recebe da universidade uma bolsa de R$ 300, mas nem sempre o dinheiro é suficiente. A solução é usar ao máximo a biblioteca.
Aluno tem de passar em 75% das disciplinas
Outro fator citado pelas universidades para explicar o bom desempenho de bolsistas do ProUni é o fato de o programa exigir aprovação mínima de 75% do total das disciplinas cursadas em cada período. Na PUC-SP, por exemplo, de um total de 1.500 bolsistas, apenas 12 perderam o benefício por falta de aprovação.
Na avaliação de Célia Forghieri, da PUC-SP, em muitos casos o comprometimento desses estudantes é maior do que o de muitos não bolsistas, "que nem sabem o quanto o pai paga pela faculdade".
Outro desafio a ser enfrentado pelas universidades é que, em muitos casos, a bolsa integral ou parcial não é suficiente para garantir que o aluno tenha condições de frequentar o curso.
No caso da PUC do Rio, inicialmente optou-se por abrir vagas via ProUni também para bolsistas parciais (com renda familiar entre 1,5 e 3 salários mínimos per capita), mas a universidade logo percebeu que muitos tinham dificuldade para arcar com metade da mensalidade.
Hoje, a instituição concentra as bolsas em benefícios integrais, para alunos com renda per capita familiar inferior a 1,5 salário mínimo.
A PUC do Rio mantém ainda um Fundo Emergencial de Solidariedade, que dá vale-transporte e tíquetes para serem usados no bandejão da instituição, além de dar suporte para a compra de material didático.
Na Estácio, do Rio, 15,5 mil dos 205 mil estudantes são bolsistas. De acordo com o diretor, Jessé Holanda, uma avaliação interna mostrou que o nível de evasão entre bolsistas é "bem menor" do que o registrado entre os pagantes.
(Folha de SP, 15/6)
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