sábado, 14 de março de 2009

Formação Política - Discussão sobre Cotas

Aqui na UFS teremos um espaço para discutirmos a Política de Cotas.

Será no Calea - Centro Acadêmico Livre dos Estudantes de Agronomia
Na próxima Sexta-feira 20.03.09 às 13h

Baixe alguns textos de referencia aqui
http://www.flyupload.com/?fid=501364300

Os textos que recomendo mais:
- Políticas de ação afirmativa em benefício da população negra
- Cotas: Programa Ações Afirmativas UFS
- Desempenho cotistas Uerj 1
- Estudantes de Origem Popular e Ações Afirmativas

danilo, historia, UFS
Fneop

MEC vai propor novo modelo para vestibulares

Opa!! Olha aê a discussão ganhando corpo.
Nossa formação política se faz urgente para entrarmos em sintonia com todo este debate.

A notícia foi enviada por bruninn100@yahoo.com.br para a lista do conexõesbrasil@yahoogrupos.com.br. Pena que a pessoa não se identificou (nome, ifes).
O Ministério da Educação quer mudar a forma de seleção das universidades e alterar os vestibulares. Em reunião com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o ministro da Educação, Fernando Haddad, acertou ontem com os reitores a montagem de um grupo para desenvolver um novo modelo de prova. "Os vestibulares são todos iguais e ruins. Estão errados e sinalizam mal para o ensino médio. O ensino hoje está voltado para o vestibular e termina que boas escolas estão piorando em função disso", afirmou.
O ministro põe na conta das provas malfeitas alguns dos problemas atuais do ensino médio, com uma educação voltada, segundo ele, para a memorização, e não para desenvolver a capacidade de raciocínio. "Hoje nós ampliamos para o ensino médio toda a rede de apoio que antes era só do fundamental: livro didático, merenda, transporte escolar. Mas nada disso vai resolver, porque colocamos um gargalo no final que é insuperável."
No final do encontro, Haddad propôs uma reunião entre os representantes das comissões de seleção das universidades e o Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação (Inep), responsável por todas as provas de avaliação educacional feitas pelo governo federal, o que foi aceito pelo presidente da Andifes, Amaro Lins. "O vestibular é realmente muito arcaico. Hoje precisamos muito mais saber se o aluno consegue aprender do que medir o que ele sabe. Precisamos realmente alterá-lo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Danilo, UFS
Fneop

terça-feira, 10 de março de 2009

III Encontro Nacional do FEOP - fala de abertura

Segue a fala de abertura feita pela nossa querida colega, Marcelly (Feop-RJ)


O Fórum de Estudantes de Origem Popular - FEOP na condição de Movimento Social comprometido com as causas Educacionais e Sociais deste país, vem neste momento tecer algumas considerações e interceder pela manutenção e ampliação do Programa Conexões de Saberes: diálogo entre a universidade e as comunidades populares. Esse programa atende direta e indiretamente (com suas intervenções nas comunidades populares) mais de 20.000 jovens moradores de periferia, favelas, loteamentos e comunidades de baixa renda em todo o Brasil. Além disso, contribui para a formação mais qualificada dos Estudantes Universitários de Origem Popular – EUOPs.


O Conexões está presente em 33 IFES em todas a unidades federativas do país. É um Programa de suma importância para os EUOPs, assim como, para a democratização do espaço acadêmico brasileiro. Contudo, desde de 2007 o programa vem sofrendo com uma série de problemas administrativos que tem afetado diretamente sua dinâmica e desenvolvimento. O principal problema tem sido os constantes atrasos no repasse das bolsas. Em algumas IFES os meses de atraso já ultrapassam um semestre. O MEC alega problemas na burocracia interna das Universidades, essa por sua vez alega problemas com as rubricas, pois só permite sua execução via Fundação de Apoio. Infelizmente, quem sofre com esse impasse são os bolsistas, os milhares de jovens atendidos nas comunidades populares e o próprio Programa, que apesar de ter uma proposta inovadora, se vê preso as burocracias e falta de sensibilidade de alguns gestores públicos.

Desta forma, viemos ratificar a importância desse Programa e suas atividades a nível nacional e, também, prestar nosso apoio na busca por soluções mais estruturais como a adoção por parte do MEC/FNDE de uma legislação específica para repasse de recursos (bolsas) para os estudantes desse e outros Programas de Extensão.

O cenário hoje é preocupante. Cerca de 20% das IFES estão sem bolsistas e com suas atividades paralisadas, muitas tiveram que devolver os recursos por não conseguirem trabalhar com as Fundações de Apoio. O relato de companheiras/os que necessitam da bolsa para permanência na universidade é triste e, muitas vezes desesperador. Esse Programa vai além de um programa de assistência estudantil, é um projeto político que busca mudar o paradigma de ensino superior brasileiro. Busca a simbiose entre o saber acadêmico e o saber popular resultando numa universidade republicana e pública de verdade.

Com muito pesar comunicamos que uma das 33 IFES que compunham o Programa desligou-se, utilizando como argumento a dificuldade de se trabalhar com as rubricas específicas, deixando cerca de 35 bolsistas sem o auxílio da bolsa do Programa Conexões de Saberes. Apesar desse quadro situacional, o FEOP se mantém nesta IFES, e hoje, o representante dessa IFES com muita luta e apoio incondicional da Coordenação Nacional do Programa Conexões de Saberes pode participar desse momento tão importante.

Finalizamos este pronunciamento com uma pequena homenagem a nossas companheiras Helenilza Joelma Costa Santos (FEOP-S) e Lourdilene de Fátima (UFMA) que faleceram no ano passado. Desta forma gostaríamos de solicitar uma salva de palmas em memória de nossas companheiras de luta.

Atenciosamente,
Fórum de Estudantes de Origem Popular.

Carta Aberta sobre a Política de Cotas

Fórum de Estudantes de Origem Popular - FEOP

Carta Aberta


O recente debate sobre cotas no Brasil, tem permitido trazer para dentro do espaço acadêmico das Universidades Públicas Brasileiras os problemas não só dos grupos historicamente discriminados, mas também, de toda a sociedade brasileira. O equívoco consiste em enfatizar a modalidade mais polêmica das Políticas de Ação Afirmativa, que têm servido, em vários países, minimizar os pesados custos sociais a populações que foram colonizadas, em países hoje considerados multirraciais, que procuram se pautar pela construção e pelo aprofundamento dos ideais democráticos.

O debate entorno da aceitação ou a não-aceitação das cotas, além de empobrecer a discussão de conteúdo, significa perder a oportunidade de se perguntar e tentar responder à seguinte questão: como podemos incluir minorias historicamente discriminadas, uma vez que as políticas universalistas não tem tido o sucesso almejado, e ao mesmo tempo debater em quais bases são possíveis rever aspectos fundamentais do pacto social?

Faz-se necessário, nessa perspectiva, implementar, por meio da lei e de instrumentos de políticas públicas, a igualdade de oportunidades, ainda que seja necessário estipular benefícios compensatórios a grupos historicamente discriminados. Dá ótica ultrapassada do indivíduo genérico, desprovido de cor, sexo, idade, classe social entre outros critérios, agora se busca o indivíduo específico “historicamente situado”, objetivando extinguir ou diminuir o peso das desigualdades impostas econômica e socialmente. A consagração normativa dessas políticas sociais representa um momento de ruptura na evolução do Estado Moderno.

Na luta contra as desigualdades raciais as políticas de Ação Afirmativa encontram resistências; uma delas pode ser atribuída ao não reconhecimento de que existe discriminação racial no Brasil. Esta posição é defendida pelo “mito da democracia racial” que impede uma discussão profunda no tocante às relações raciais: “[...] não se enxerga a prática racista, mas o resultado do racismo por meio de dados estatísticos oficiais e não oficiais” (SANTOS e LOBATO: 2003).

O Fórum de Estudantes de Origem Popular é resultado de uma política pública que tem no seu bojo dotar o Estudante de Origem Popular de uma melhor qualificação para que venham a atuar como lideranças comunitárias capazes de lutar pela melhoria de suas comunidades de origem e pela democratização do acesso e a permanência com qualidade na universidade pública brasileira.

Não mais nos calaremos diante dos inúmeros crimes cometidos contra as populações historicamente desfavorecidas. Nossa luta é por direitos humanos. Nossa luta é contra a invisibilidade dos Estudantes afrodescendentes. Nossa luta é pela democratização do acesso e a permanência qualificada daqueles que mesmo sendo maioria no país, ainda são minoria nas nossas universidades.

Somos em defesa da adoção de Políticas Compensatórias pelos séculos de escravidão e pela repactuação social. Uma universidade plural e solidária se faz com eqüidade social e respeito a sabedoria popular.

Fórum de Estudantes de Origem Popular

segunda-feira, 9 de março de 2009

III Encontro Nacional do Feop 02 a 05 de março de 2009

Primiera reunião do III Encontro Nacional do Fórum dos Estudantes de Origem Popular. Segunda, 02.03.09 às 16h.

Três estudantes que participram as atividades do Feop no ano de 2008. Rogério (UFPR), Danilo (UFS) e Iljorvânio (UFES).

A grande presença de pessoas novas no Feop acabou levando a esta reunião abordando o Histórico e as Ações do Feop desde seu surgimento em Pernambuco, 2005 durante no II Seminário Nacional do Programa Conexões de Saberes


Educação - nós queremos mais

Educação nós queremos mais: Conexões de Saberes, a Utopia necessaria aos estudantes de origem popular

-------------------------------------------------------------Gilney Costa*


Primeiro lugar gostaria de saudar a todas e todos. E dizer que é com imenso prazer que nós estudantes da UNIVASF – Universidade Federal do Vale do São Francisco nos reunimos com vocês bolsistas dos quatro cantos do país, para juntos dizermos a nossa palavra, denunciar a opressão que diariamente o jovem de origem popular passa dentro e fora dos contextos universitários e anunciar que “a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte”.

Dito isso, começarei por citar Paulo Freire, exímio educador brasileiro, nordestino, diga-se de passagem, que na década de 50 apresenta uma contribuição da mais alta importância no campo da educação popular: a conscientização e politização das massas em situação de opressão. Para ele, toda educação é em si mesma política e como tal, possui um compromisso com o outro, de modo que, ela implica em um certo modo respeitoso e antes de tudo ético, no desvelamento do mundo e da condição do sujeito como um ser-no-mundo-com-os-outros.

Avançando um pouco mais nesse dialogo com Paulo Freire, encontramos em pedagogia do oprimido (1970; 119) a sua concepção de humano, para ele “os homens são porque estão em situação. E serão tanto mais quanto não só pensem criticamente sobre sua forma de estar, mas criticamente atuem sobre a situação em que estão”.

Pensar dessa forma, nos leva a entender as palavras ovacionadas quase que seguidas por um orgasmo coletivo da Leonor Araújo, quando diz: “EU NÂO SOU DESCENDENTE DE ESCRAVO, MAS SIM DE AFRICANO". Ora se o ser é porque se encontra em situação não podemos ser descentes de escravos, uma vez que ser escravo não é (no sentido do verbo SER) condição essencial do ser humano. Logo, o negro não era escravo, O NEGRO ESTEVE EM PROCESSO DE ESCRAVIZAÇÃO. Não podemos deixar de lembrar que as senzalas, os rituais das práticas religiosas eram as formas de resistir ao senhor do engenho.

Por isso, que o conceito de ser em situação tem duas implicações significativas, primeiro que retomado do filosofo Jean Paul Sartre (s.d.) o sujeito não escolhe a sua situação, pois ele é um ser histórico, mas escolhe as atitudes diante de sua situação.

Dessa forma, temos como primeira implicação do conceito de ser em situação adesculpabilização, do sujeito pelo seu insucesso e fracasso, assim como o seu sucesso, ambos passam a ser entendido como resultado de uma rede social, que lhe marca o campo existencial e que não deve ser dicotomizada. E a segunda é o sobre a Liberdade de se criar histórico e socialmente, sendo ela o próprio sentido da existência.

“Não há dúvida, por exemplo, de que nosso passado escravocrata nos marca como um todo até hoje. Corta as classes sociais, as dominantes como as dominadas. Ambas revelvam compreensões do mundo e têm práticas significativamente indicativas daquele passado que se faz presente a cada instante. Mas o passado escravocrata não se esgota apenas na relação na experiência do senhor todo-poderoso que ordena e ameaça e do escravo humilhado que ‘obedece’ para não morrer, mas na relação entre eles. E é exatamente obedecendo para não morrer que o escravo termina por descobrir que ‘obedecer’, em seu caso, é uma forma de luta, na medida em que, assumindo tal comportamento, o escravo sobrevive. E é de aprendizado em aprendizado que se vai fundando uma cultura de resistência, cheia de ‘manhas’, mas de sonhos também. De rebeldia, na aparente acomodação. (FREIRE, 2003; 108)”

Passeando pela Pedagogia da autonomia, destacamos o que ele concebeu como o papel da educação, nos diz Freire (1996; 126), “se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a educação pode. Se a educação não é a chave das transformações sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante”. Poderia encerrar esse texto aqui, acrescentando somente que é por isso que é tão difícil escrever e fazer efetivamente a educação nós queremos mais.

Pode parecer estranho que numa época como a nossa que vem sustentando diversas formas de relações perversas com o outro e com o mundo, onde o ser foi reduzido a valor mercadológico alguém escreva um texto “Educação nós queremos mais: conexões de saberes a utopia necessária aos estudantes de origem popular”. Devo lembrá-los que tomo emprestado o termo utopia não como algo abstrato, que esta na ordem da fantasia, muito pelo contrario, retomo Paulo Freire, para o qual a utopia é fundante da práxis de tornar-se e existir humanamente. É ela que instaura, o sonho, e que de algum modo mobiliza o sujeito, potencializando a sua consciência de ser em situação, a sua luta para superar as situações limites, que se anuncia através das possibilidades, ou seja, estamos sendo histórico, social e economicamente condicionados, mas não determinados.

Isso me fez lembrar Paulo Freire quando em 1996, ele confessa que “me sentiria mais do que triste, desolado e sem achar sentido para minha presença no mundo, se fortes e indestrutíveis razoes me convencessem de que a existência humana se dá no domínio da DETERMINAÇÃO”
Muitos de vocês, nesse momento, devem estar se perguntando o que Paulo Freire tem haver com o conexões de saberes? Nesse momento, é imprescindível lembra-los que como diria o próprio Freire (1996; 160) “a alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura da boniteza e da alegria”.

Paulo Freire, neste sentido, está em perfeita sintonia com as práticas do conexões de saberes, somente para constar algumas dessas práticas:

- A educação de jovens e adultos;
- A importância dos trabalhos desenvolvidos pelo Brasil a fora, no sentido de juntamente com a comunidade fazer a leitura crítica do mundo, de forma emancipadora tanto humana quanto política, o que tem levados os sujeitos em situação de opressão correrem em busca da superação das situações limites;
- Os eixos norteadores do trabalho: acesso, permanência, sucesso e pós-permanência no ensino superior de forma universal no sentido de garantir efetivamente a sua democratização levando em conta a integralidade dos direitos da pessoa humana.

Nesse retorno que fiz ao Paulo Freire, pensava eu que nascer me estragou, é verdade. Analiso essa sociedade do espetáculo, da aparência, da contradição, na qual as inversões foram se consolidando cada vez mais a ponto de reduzir o humano a um estado de objeto.

Nos dias atuais, vige a regra de que é preciso antes de tudo ter, e o ser surge como conseqüência deste primeiro, virtudes como respeito, ética, solidariedade passam a ser esquecidas e somente são exercida em função do ter, o que tem contribuído com o que o Leonardo Boff em seu livro “saber cuidar: ética do humano compaixão pela terra” tem chamado de crise da civilização, ou crise civilizacional.

Isso inquieta a minha existência. Busco pensar, ou melhor, acredito que nascer me estragou, porque enquanto ser social, da opção, da busca, da falta, do desejo, da fratura, da sensibilidade, da revolta, da compaixão, do compartilhamento, enfim, enquanto ser HUMANO DEMASIADO HUMANO não posso acreditar, muito menos aceitar essa ideologia fatalista do século XXI, que insiste em criar abismo entre negros, índios e brancos, homens e mulheres, homossexuais e hetero, pobres e ricos, que insisti em rotular categorias de acordo com preceitos religiosos, políticos, ideológicos separando o humano do humano e de sua existência.

Nascer me estragou, porque rejeito e contesto toda e qualquer forma de determinismo social, de violência simbólica, de tortura ideológica que tenta impor que filho de peixe, peixinho é e tem que ser. Levantar essa bandeira, e rejeitar tal imposição é pagar um alto preço sem perder a dignidade e o comprometimento ético com o outro, que na verdade deixa de ser tão outro, para passar a ser o próximo. Defender essa causa é antes de qualquer coisa, respeitar o próximo em sua outridade.

Visto esta camisa, escrevo ideologicamente “EDUCAÇÃO NÒS QUEREMOS MAIS” para que jovens de origem popular, assim como nós tenham acesso e permanência com dignidade em uma universidade pública que na concepção é o seu lugar, por direito, mas na prática ainda é o desafio. É bem verdade, que a universidade não foi e nunca será via de realização única pessoal e profissional, mas é uma possibilidade a mais, que precisa estar inserida nos projetos de vida dos jovens e adultos de origem popular, é neste sentido que a educação deve ser para todos, no sentido, de que esse direito seja assegurado pelo Estado.

Assim, nos posicionamos contra vestibular por entender que ele não medeconhecimentos, não trata igual os desiguais, e ainda mais, que ele só atesta o não compromentimento do Estado Brasileiro em garantir o principio constitucional de que educação é um direito do cidadão e dever do estado.

É certo, também, que estamos mais que convencidos estaticamente de que nunca houve na historia desse país a presença em tão larga escala de estudantes de origem popular nas universidades federais, entretanto, tal presença não tem sido ainda o suficiente para diminuir o fosso social entre, parafraseando Freire (1970), oprimidos e opressores. Não é preciso dizer, que ao chegar à universidade o estudante de origem popular diminui o percentual da evasão (obvio que para que isso ocorra, não podemos deixar de lembrar políticas de permanência), os estudantes de origem popular são melhores da turma (nãosó em termos de conteúdo, mas de leitura crítica de sua realidade), além de terem compromisso social com quem esta fora das quatro paredes da instituição.

Por outro lado não podemos deixar de mencionar que a experiência nos tem apontado que não adianta inovar com traços de uma velha estrutura. A divisão de classe, não acabou com Marx, ela perdura ainda, hoje, gerando novas formas de exploração e escravização. Essa concepção de divisão de classe tem implicações seriíssimas aos estudantes de origem popular, somente para citar, destaco algumas:

1º ao ingressar no ensino superior o estudante não tem escore para concorrer à bolsa de iniciação cientifica, o que o torna mais vulnerável ainda à evasão;

2º a todo instante ele é “convidado” a negar a sua trajetória de vida, antes dauniversidade;

3º o estudante egresso de primeiro semestre não tem vínculos com a universidade, isso inclui vínculos com a instituição e vínculos sociais dentro da instituição.

O Programa conexões de saberes, como um espaço de dialogo entre universidade e comunidades populares tem se mostrado uma excelente tecnologia social, na promoção da democratização do acesso, sucesso, permanência e pós-permanência no ensino superior. Entretanto, vocês assim como eu, sabem que o conexões é hoje um programa de governo e não uma Política de Estado, logo, se algum outro presidente assumir a gestão do país e não estiver sensível as suas causas o programa pode deixar de existir, como também pode se fortalecer, em suma, as chances são 50% para continuar e 50%para deixar de existir.

Convêm, no entanto, ressaltar que em se tratando de saúde e educação, estamosfalando de vidas, por isso mesmo, merecem respeito e, sobretudo ética, dessa forma não podemos trabalhar com projeções, precisamos do concreto. Mas, afinal que concreto é esse?

1º Que a Secretaria de Educação Alfabetização Continuada e Diversidade - SECAD, seja pelo FNDE, ou por algum outro órgão, se comprometa efetivamente com o pagamento das bolsas já que o pagamento delas através de fundações tem encontrado empecilhos legais do Tribunal de Contas da União;

2º Que o Ministério da Educação e Cultura – MEC, compactue junto ao Governo Federal, os Institutos Federais de Ensino Superior (IFES), e os Conexistas, a elaboração de um projeto de lei, que eleve o Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a universidade e as comunidades populares a categoria de políticas públicas;

3º, e último ponto, gostaria de contar algo que considero de fundamental importância trazer a baila, é o caso que estamos vivenciando com o Pré-vestibular Comunitário da UNIVASF, que trabalhando na perspectiva de educação efetivamente inclusiva, se prepara para garantir direitos a quem de fato possui direitos, através da integralização dos direitos da pessoas com deficiência.

Para terminar, nada melhor do que Paulo Freire (1970; 172) quando diz que “os heróis são exatamente os que ontem buscavam a união para a libertação e não os que, com o seu poder, pretendiam conquistar para reinar”.

* Graduando do V período do curso de psicologia pela UNIVASF – Universidade Federal doVale do São Franscisco, bolsista do Programa Conexões de Saberes: diálogos entre auniversidade e as comunidades populares, desde 2007.

FÓRUM NACIONAL DE ESTUDANTES DE ORIGEM POPULAR - FNEOP

Carta aberta a sociedade brasileira

No período de 02 a 04 de março de 2009, no Município de Luziânia – GO, reuniram-se na Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria, integrantes do FNEOP para realização do III Encontro Nacional do Fórum de Estudantes de Origem Popular, a fim de construir suas diretrizes conceituais e agenda política propositiva. Como o III Encontro Nacional aconteceu concomitante ao III Seminário Nacional do Programa Conexões de Saberes, algumas questões pertinentes a continuidade do Programa em algumas IFES permearam os debates e proposições, assim como, suas diretrizes conceituais no campo das Políticas Públicas de Ação Afirmativa.

O FNEOP acredita no engajamento dos Estudantes Universitário de Origem Popular nas temáticas que envolvem o acesso e permanência com qualidade, na busca pela democratização do ingresso ao Ensino Superior Público e na permanência com sucesso.

Segundo pesquisas realizadas pelo Programa Conexões de Saberes (2005/2006); e pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior - ANDIFES (2003/2004), os estudantes de origem popular correspondem a apenas 15% dos estudantes universitários presentes nas Instituições Federais de Ensino Superior - IFES. Ainda que sendo um percentual ínfimo (15%), diante da quantidade de Estudantes de Origem Popular que concluem o Ensino Médio todos os anos no Brasil, infelizmente a Assistência Estudantil presente na maioria das IFES brasileiras ainda é insuficiente para atender as demandas e singularidades do perfil dos EUOPs.

Desta forma, nós Estudantes Universitários de Origem Popular comprometidos com democratização do acesso e permanência da universidade pública, ratificamos a importância de programas como o Conexões de Saberes, que valorizam e reforçam o saber popular, assim como, a relação com as comunidades populares, buscando a construção de uma nova concepção de universidade pública e democrática.

A construção de uma agenda nacional propositiva em consonância com as linhas conceituais do Programa Conexões de Saberes demonstra que é possível a conexão entre universidade, movimentos sociais e comunidades populares. Contudo, precisamos caminhar juntos na proposição e efetivação de Políticas Públicas de Ação Afirmativa que reafirme o real papel da universidade brasileira e seu compromisso com a sociedade, em especial, com os filhos e filhas da classe trabalhadora.

Nesse sentido, precisamos concentrar esforços para evitar que mais estudantes universitários de espaços populares sejam prejudicados pelo excesso de burocracia entre as instâncias públicas. Infelizmente, ao fim desses três dias de Encontro observamos com pesar a notícia de que algumas universidades se desligaram (UFPR e UFRR) do programa e outras estão com suas atividades paralisadas (UFS, UFF, UFES, UFPB entre outras). Da mesma forma, se faz mister a implementação de uma legislação que permita o repasse de recursos para bolsistas e coordenadores nos programas e projetos de extensão. Por outro lado, esse cenário desolador nos remete ao papel político-social de militância de nós estudantes de origem popular na luta pela continuidade, ampliação e institucionalização deste Programa.

Reforçando, o FÓRUM NACIONAL DE ESTUDANTES DE ORIGEM POPULAR - FNEOP vem apoiando as propostas apresentadas no Plano Nacional de Assistência Estudantil, mas sugere que a estrutura universitária seja modificada. Ao propor a adoção de Políticas de Ações Afirmativas por parte das Instituições de Ensino Superior - IES, deixa claro que não basta investir na ampliação das vagas se não houver uma mudança na lógica meritocrática da universidade e investimento em políticas de permanência que garantam uma formação universitária plena para estudantes de origem popular.


Fórum Nacional de Estudantes de Origem Popular - FNEOP